Qualquer coisa de obscuro permanece
No centro do meu ser. Se me conheço,
E até onde, por fim mal, tropeço
No que de mim em mim de si se
esquece.
Aranha absurda que uma teia tece
Feita de solidão e de começo
Fruste, meu ser anónimo confesso
Próprio e em mim mesmo a externa
treva desce.
Mas, vinda dos vestígios da
distância
Ninguém trouxe ao meu pálio por ter
gente
Sob ele, um rasgo de saudade ou
ânsia.
Remiu-se o pecador impenitente
À sombra e cisma. Teve a eterna
infância,
Em que comigo forma um mesmo ente.
FERNANDO PESSOA, 23 DE SETEMBRO DE
1933
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