Todas as minhas sensações são Deus.
Transbordo transcender-me.
Pisando a terra dura os passos meus
Sinto Deus pertencer-me
Piso com passos de alma os vastos
céus...
Cesso de me conter hora após hora
Constantemente sou mais do que sou...
O passado ou o futuro é sempre agora
Para o Eterno onde o meu ser-Deus
mora
Para o Deus onde sempre estou...
Profuso de diariamente ser-me,
Prolixo de ser Deus esquecido em
mim...
Estou sempre no fim
De definir-me por
não-pertencer-me...
As minhas horas, rosas de perder-me
Perfumam de Infinito o meu jardim.
Saibo-me a horas imortais se vejo
A transparência Deus da minha vida
Meu conceito de mim é um desejo
Que Deus tem da hora ser medida...
No ar azul-Deus vicejo
E imita Deus a flor de haste vivida
A palmos corpos não me meço
A sentimentos, alma, não me cinjo...
Caibo nos lugares de eu aonde me
esqueço
E, céu longínquo, tinjo
De azul os lugares... Finjo
Ser (...) e, (...)
No horizonte de Deus eu amanheço.
FERNANDO PESSOA, 18 DE SETEMBRO DE
1914
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