Sonhei - quem não sonhara? - porque
a tarde
Baixava o azul do céu e já se via
Uma estrela pequena, sem alarde,
Ainda em dia a desmentir o dia.
Tudo quanto mal fiz ou não queria
Numa fogueira que não vejo arde,
Meu coração, que espera e não
confia,
É como um poço ao qual a água tarde.
Sonhei. Pois não havia de sonhar
Vendo ante mim este céu brando e o
mar,
Ao longe um lago, parecer parado...
Sonho... Não sei de quê, mas foi de
um bem
Que não sei se era algum ou se era
alguém
E que só conheci como ignorado.
FERNANDO PESSOA, 29 DE NOVEMBRO DE
1934
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