JANELA SOBRE O CAIS
O cais, navios, o azul dos céus -
Que será tudo isto como o vê Deus?
Que forma real tem isto tudo
Do lado de onde não é absurdo?
Olho e de tudo me perco e o estranho.
É como se tudo fosse castanho -
O cais - que irreal de pesado e quedo
Os mastros dos barcos estagnam medo
O céu azul é sem razão céu..
Mostrou-se tudo seu próprio véu
E agora erguendo-se na hora incerta
O mundo fica uma porta aberta
Por onde se vê, simples e mais nada,
Uma outra porta sempre fechada.
Entre a vida e o sonho, entre o sol e Deus
Há enormes abismos pálidos e ateus...
FERNANDO PESSOA, 26 DE NOVEMBRO DE 1913
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