Deixa-me ouvir o que não
ouço...
Não é a brisa, ou o
arvoredo;
É outra coisa
intercalada...
É qualquer coisa que não
posso
Ouvir senão em segredo,
E que talvez não seja
nada...
Deixa-me ouvir... Não
fales alto!
Um momento!... Depois o
amor,
Se quiseres... Agora
cala!
Ténue, longínquo
sobressalto
Que substitui a dor,
Que inquieta e embala...
O quê? Só a brisa entre
a folhagem?
Talvez... Só um canto
pressentido?
Não sei, mas custa amar
depois...
Sim, torna a mim, e a
paisagem
E a verdadeira brisa,
ruído...
Que pena sermos dois!
FERNANDO PESSOA, 12 DE
JULHO DE 1930
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