segunda-feira, 25 de julho de 2016

FAZ HOJE 100 ANOS



Há uma vaga mágoa
No meu coração...
Como que um som de água
Suma solidão...
Um som ténue de água...

Memoro o que, morto,
Ainda vive em mim...
Memoro-o, absorto
Num sonho sem fim,
Estéril e absorto.

Será que me basta
Esta vida em vão?
Que nada se afasta
Da sua solidão...
Nem de mim me afasta?

Não sei. Sofro o acaso
Da mágoa em meu ser...
Cismo, e há em mim o ocaso
Do que quis viver -
Sempre só o ocaso.

FERNANDO PESSOA, 25 DE JULHO DE 1916


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