segunda-feira, 27 de julho de 2015

FAZ HOJE 85 ANOS





Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este lar que não existe!

Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho,
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos no caminho.

Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só, - veste de seda -,
E falar só - leque agitado.


FERNANDO PESSOA, 27 DE JULHO DE 1930


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