Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este lar que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho,
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos no caminho.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só, - veste de seda -,
E falar só - leque agitado.
FERNANDO PESSOA, 27 DE JULHO DE 1930
Sem comentários:
Enviar um comentário