Deixei cair o livro onde não li
Mais que uma só palavra lembradora...
Magia! E outra paisagem e outra hora
Ante meus olhos irreais revi.
E eu, que choro mais que o que perdi,
E cuja vaga alma, (…)
O tempo abstracto, não o passado, chora
Mas no passado o chora, que é o que vi,
De novo torno a ser quem nunca fui,
E sob meus olhos imprecisos flui
O rio que não foi da minha infância,
E a minha infância reconhece o rio,
E a saudade de mim e da minha ânsia
Segue solene as ondas e o desvio...
FERNANDO PESSOA, 21 DE MAIO DE 1930
Sem comentários:
Enviar um comentário