Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente,
isto é monótono,
Como à força de sentir,
isto é monótono,
Como à força de sentir,
fico só a pensar.
Se, de noite, deitado
mas desperto
Na lucidez inútil de não
poder dormir,
Quero imaginar qualquer
coisa
E surge sempre outra
(porque há sono,
E, porque há sono, um
bocado de sonho),
Quero alongar a vista
com que imagino
Por grandes palmares
fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de
lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas
casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui,
deitado, é outra coisa.
À força de monótono, é
diferente.
E, à força de ser eu,
durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que
esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
ÁLVARO DE CAMPOS, 10 DE
MAIO DE 1934
Sem comentários:
Enviar um comentário