segunda-feira, 26 de novembro de 2012

FAZ HOJE 99 ANOS


JANELA SOBRE O CAIS

O cais, navios, o azul do céu -
Que será tudo isto como o vê Deus?

Que forma real tem isto tudo
Do lado de onde não é absurdo?

Olho e de tudo me perco e o estranho
É como se tudo fosse castanho -

O cais - que irreal de pesado e quedo
Os mastros dos barcos estagnam medo

O céu azul é sem razão céu...
Mostrou-se tudo seu próprio véu

E agora erguendo-se na hora incerta
O mundo fica uma porta aberta

Por onde se vê, simples e mais nada,
Uma outra porta sempre fechada.

Entre a vida e o sonho, entre o sol e Deus
Há enormes abismos pálidos e ateus...

FERNANDO PESSOA, 26 DE NOVEMBRO DE  1913

Sem comentários: