Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes
constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me
assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste a condição para um poeta
menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta
menor.
O que fui outrora foi um desejo:
partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá
vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na
cama.
Nunca estive bem senão deitando-me
no universo.
Excusez du peu... Que grande
constipação física!
Preciso da verdade e de aspirina.
ÁLVARO DE CAMPOS, 14 DE MARÇO DE
1931
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