AH, UM SONETO...
Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
E que a vai relembrando pouco a
pouco
Em casa, a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
Nesta cadeira, só de o imaginar)
O mar abandonado fica em foco
Nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de
cansaços.
Mas - esta é boa - era do coração
Que eu falava... e onde diabo estou
eu agora
Com almirante em vez de sensação?
ÁLVARO DE CAMPOS, 12 DE OUTUBRO DE
1931
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