Sorrindo, com as mãos ainda estando
Sobre o teclado do piano findo,
Olhas os que te ouviram, convidando
Cada um deles a sorrir, sorrindo.
Não queres que te digam que tocaste
Com arte, ou segurança, ou emoção.
Sorriste. E assim, sem o sentir, ficaste
Cativa de nenhuma sensação.
Quando a música acaba, acaba o mundo,
E o que há de tudo é nada valer nada.
E ninguém sente senão um profundo
Desejo de uma coisa já acabada.
Mas tu sorris... E todos despertamos
E todos somos gratos e o dizemos.
Mas entre nós há um rio, e escutamos..
O barco voga sem o som dos remos.
FERNANDO PESSOA, 10 DE AGOSTO DE 1934
Sem comentários:
Enviar um comentário