Não sei, ama, onde era;
Nunca o saberei...
Sei que era primavera
E o jardim do rei...
(Filha, quem o
soubera!...)
Que azul tão azul tinha
Ali o azul do céu!
Se eu não era a
rainha,
Porque era todo meu?
(Filha, quem o
adivinha?)
E o jardim tinha
flores
De que não me sei
lembrar...
Flores de tantas
cores…
Penso e fico a
chorar...
(Filha, os sonhos são
dores...)
Qualquer dia viria
Qualquer cousa a
fazer
De aquela alegria
Mais alegria nascer
(Filha, o resto é
morrer...)
Conta-me contos,
ama...
Todos os contos são
Esse dia, e jardim e
a dama
Que eu fui nessa
solidão...
(Filha, (…))
FERNANDO PESSOA23 DE
MAIO DE 1916
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