domingo, 12 de maio de 2013

FAZ HOJE 100 NOS





COMPLEXIDADE

São horas, meu amor, de ter tédio de tudo...
A minha sensação desta Hora é um veludo…
Cortemos dele uma capa para o nosso saber 
Que não vale a pena viver... 
Vai alto, meu amor, o sol de termos tédio 
Até ao nojo corporal de o saber tido... 
Sei que vivo... Que horror! Tu és um mero remédio 
Que tomo para ter vivido... 
Que horror seres a mesma sempre, não te esmaga 
O saber-te A Igual? És como as outras. Vaga 
Dum mar de vagas sempre iguais é esta hora 
De ti, ó parco Outrora... 
Separemo-nos, mesmo se um de nós da ideia 
Do outro, mero eco fique do outro ou reverbero... 
Oh como o meu amar-te, ó meu amor, te odeia! 
Com que aversão te quero! 


FERNANDO PESSOA, 12 DE MAIO DE 1913

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