COMPLEXIDADE
São horas, meu amor, de ter tédio de tudo...
A minha sensação
desta Hora é um veludo…
Cortemos dele uma
capa para o nosso saber
Que não vale a pena
viver...
Vai alto, meu amor, o
sol de termos tédio
Até ao nojo corporal
de o saber tido...
Sei que vivo... Que
horror! Tu és um mero remédio
Que tomo para ter
vivido...
Que horror seres a
mesma sempre, não te esmaga
O saber-te A Igual?
És como as outras. Vaga
Dum mar de vagas
sempre iguais é esta hora
De ti, ó parco
Outrora...
Separemo-nos, mesmo
se um de nós da ideia
Do outro, mero eco
fique do outro ou reverbero...
Oh como o meu
amar-te, ó meu amor, te odeia!
Com que aversão te
quero!
FERNANDO PESSOA, 12
DE MAIO DE 1913
Sem comentários:
Enviar um comentário