PADRÃO
O esforço é grande e o
homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão,
navegador, deixei
Este padrão ao pé do
areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra
é imperfeita.
Este padrão sinala ao
vento e aos céus
Que, da obra ousada, é
minha a parte feita:
O por-fazer é só com
Deus.
E ao imenso e possível
oceano
Ensinam estas Quinas,
que aqui vês,
Que o mar com fim será
grego ou romano:
O mar sem fim é
português.
E a Cruz ao alto diz que
o que me há na alma
E faz a febre em mim de
navegar
Só encontrará de Deus na
eterna calma
O porto sempre por
achar.
FERNANDO PESSOA, 13 DE
SETEMBRO DE 1918
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