O HORROR SÓRDIDO DO QUE,
A SÓS CONSIGO,
Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou
de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou
tonto
E não sei bem se me devo
levantar da cadeira
Ou como me levantaria
dela.
Fiquemos nisto: estou
tonto.
Afinal
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular
e do absurdo,
Tudo nada...
É por isso que estou
tonto...
Agora
Todas as manhãs me
levanto
Tonto...
Sim, verdadeiramente
tonto...
Sem saber em mim o meu
nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.
Mas se isto é assim é
assim.
Deixo-me estar na
cadeira.
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto...
ÁLVARO DE CAMPOS, 12 DE
SETEMBRO DE 1935
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