Não foram as horas nos que nós
perdemos,
Nem o comboio que não chegou.
Foi só o barco e o gesto dos remos
E a triste vida que já passou.
Tudo nos dava a impressão de
havermos
Entre travessas errado a Rua,
E não acharmos o amor, nem termos
Para a tristeza senão a Lua...
Tudo isso foi como se não fosse...
Antes tivesse durado menos...
Enfim, que importa? Não há a
posse...
E os céus eternos só são serenos...
FERNANDO PESSOA, 21 DE FEVEREIRO DE
1915
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