terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

FAZ HOJE 104 ANOS




Não batas palmas diante a beleza.
Não se sente a beleza demasiado.
Saibamos como os deuses
Sentir divinamente.
Ao ver o belo, lembra-te que morre.
E que a tristeza desse pensamento
Torne elevada e calma
A tua admiração.
E se é estátua ou de Píndaro alta estrofe
Em quem teus olhos vão abandonados
Não te esqueças que essa
Beleza não é viva.
Sempre ao belo alguma coisa há-de faltar
Para que seja triste contemplá-lo
E que nunca se possa
Bater palmas ao vê-lo...
Calma é a beleza. Ama-a calmamente.
Os dons dos deuses como um deus aceita
E terás tua parte
Do néctar dado aos calmos.

RICARDO REIS, 12 DE FEVEREIRO DE 1915


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