terça-feira, 26 de novembro de 2013

FAZ HOJE 97 ANOS

O rio era por cidades mortas... 
Às suas negras e esquecidas portas 
A noite estava contra as sentinelas... 
De luz, sobre o rio, eram janelas 
E o silêncio era o resto. Nunca ouvi 
Voz suave e doce que não soasse a ti 
Nem menos me trouxesse do que és. 

O rio ia, e eu tinha sob os pés 
Imaterial, a paisagem sem forma 
Em que esta melodia te transforma... 
Pompa de pompas, divino posto 
Contra lembrar-te, fúnebre ante-gosto 
Em salas da eça posta contra a idade 
Em que eu te tinha. Pálida, a cidade 
Ao luar, na sombra nítida acentua 
Seu caminho subtil 
Onde às piscinas do jardim dado a abril 
Desce a sombra da ninfa e ali flutua. 


FERNANDO PESSOA, 26 DE NOVEMBRO DE 1916


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