O rio era por cidades mortas...
Às suas negras e esquecidas portas
A noite estava contra as sentinelas...
De luz, sobre o rio, eram janelas
E o silêncio era o resto. Nunca ouvi
Voz suave e doce que não soasse a ti
Nem menos me trouxesse do que és.
O rio ia, e eu tinha sob os pés
Imaterial, a paisagem sem forma
Em que esta melodia te transforma...
Pompa de pompas, divino posto
Contra lembrar-te, fúnebre ante-gosto
Em salas da eça posta contra a idade
Em que eu te tinha. Pálida, a cidade
Ao luar, na sombra nítida acentua
Seu caminho subtil
Onde às piscinas do jardim dado a abril
Desce a sombra da ninfa e ali flutua.
FERNANDO PESSOA, 26 DE NOVEMBRO DE 1916
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