quarta-feira, 6 de novembro de 2013

FAZ HOJE 100 ANOS




ENVOI

Princesa que morreste 
No meu castelo antigo, 
Tuas mãos - nunca as deste 
Ao meu afago amigo... 
A orla da tua veste - 
Que teve ela comigo? 

Expiraste e já eras 
Morta e não sei onde... 
(Perfume das primaveras 
O que o teu seio esconde) 
Debruço-me sobre as eras 
E chamo... Ninguém me responde. 

Haverá algum dia 
E alguma hora real 
Em que a minha mão fria 
Encontra a tua afinal 
E a minha dor seja alegria 
E meu bem o meu mal.' 

Não sei... E não sabê-lo 
Cansa-me de te amar. 
A cor do teu cabelo? 
Não a posso sonhar. 
O teu olhar? É belo... 
Mas tu não tens olhar... 

Talvez me esperes? Quem sabe. 
Tudo morreu em mim. 
Na tua ida cabe 
O nunca teres fim... 
O mundo que desabe 
E eu ter-te-ei enfim. 






FERNANDO PESSOA, 6 DE NOVEMBRO DE 1913

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