NA ÚLTIMA PÁGINA DE UM ANTOLOGIA
NOVA
Tantos bons poetas!
Tantos bons poemas!
São realmente bons e bons,
Com tanta concorrência não fica
ninguém,
Ou ficam ao acaso, numa lotaria de
posteridade,
Obtendo lugares por capricho do Empresário...
Tantos bons poetas!
Para que escrevo eu versos?
Quando os escrevo parecem-me
O que a minha emoção, com que os
escrevi, me parece -
A única coisa grande do mundo...
Enche o universo de frio o pavor de
mim.
Depois, escritos, visíveis, legíveis...
Ora... E nesta antologia de poetas
menores?
Tantos bons poetas!
O que é o génio, afinal, ou como é
que se distingue
O génio, e os bons poetas dos bons
poetas?
Seio lá se realmente se distingue...
O melhor é dormir...
Fecho a antologia mais cansado do que
do mundo -
Sou vulgar?
Há tantos bons poetas!
Santo Deus!...
ÁLVARO DE CAMPOS, 1 DE MAIO DE 1928
Sem comentários:
Enviar um comentário