Tange a tua flauta, pastor.Esta tarde
Pertence à dor, à tua dor que em mim arde.
Tange, tange, para que eu me não sinta sofrer.
Leve, um vento antigo passa entre ti e mim.
Leve, o vento regressa, e a música está no fim.
Mas nunca haverá fim ou música em meu tormento.
Tange outra vez a flauta, pastor. Deixa o vento
Estar entre ti e mim outra vez, como a sombra triste
Que está na tua alma, e na minha alma, e não existe.
FERNANDO PESSOA, 14 DE JUNHO DE 1916
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