quarta-feira, 13 de junho de 2012

FAZ HOJE 82 ANOS




Há 124 anos que o Fernando António Nogueira  Pessoa nasceu, - completam-se hoje, dia de Santo António.
Neste cantinho que lhe tenho dedicado, a festa reduz-se à apresentação do poema "ANIVERSÁRIO", "escrito" pelo Engenheiro Álvaro de Campos e datado de 13 de Junho de 1930.
Ele hoje é do Mundo! É um Poeta universal.
Fiquei amargurado quando li, uma entrevista do escritor brasileiro José Pedro Cavalcanti Filho, em que ele, - referindo-se às preciosidades que tem adquirido e que já fazem concorrência às que estão patentes na Casa Fernando Pessoa -, disse que o Museu "a haver", seria no Brasil, pois lá o Poeta é muito mais respeitado. E, infelizmente, é verdade. Basta passar uma vista de olhos pelo Fecebook, para o constatar. Na minha página "Fernando Pessoa" recebo, diariamente, um sem número de "gosto", esmagadoramente vindos de brasileiros e brasileiras. O portugueses, são poucos. Como noutros campos, o que é português, não presta! E há a inveja, a lamentável, mas bem evidente, inveja, de poetas actuais, que tentam silenciar o seu génio; mas não conseguem!
Não seremos tantos como os brasileiros, mas vamos continuar a mostrar toda a beleza que ele nos legou.







ANIVERSÁRIO


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha,  estava certa como uma religião qualquer.


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperança, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.


Sim, o que foi de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o eco...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!


O que eu hoje sou é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,E estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio...


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viajem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!


Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na louça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas, - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado -,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...


Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado na algibeira!...


O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


ÁLVARO DE CAMPOS, 13 DE JUNHO DE 1930

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