De
amore suo
Folha após folha vemos caem,
Cloé, as folhas todas.
Nem antes para elas, para nós
Que sabemos que morrem.
Assim, Cloé, assim,
O amor, antes que o corpo que
empregamos
Nele, em nós envelhece;
E nós, diversos, somos, inda jovens,
Só a mútua lembrança.
Ah, se o que somos será isto sempre
E só uma hora é o que somos,
Com tal excesso e fúria em cada
amplexo
A hausta vida ponhamos,
Que encha toda a memória, e nos
beijemos
Como se, findo o beijo
Único, sobre nós ruísse a súbita
Mole do inteiro mundo.
RICARDO REIS, 27 DE OUTUBRO DE 1923
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