O cão que veio do abismo
Roeu-me os ossos da alma,
E erguendo a perna - o que eu cismo
-
Mijou no meu misticismo
Que me dava a minha calma.
O cão veio de onde dorme
Aquele anseio que tenho
Por qualquer coisa de enorme
Que indistintamente forme
A forma de quanto estranho.
E depois de isso completo
O cão que veio do abismo
Que estava inteiro e repleto
Fez sobre tudo o dejecto
Que é hoje o meu misticismo.
ÁLVARO DE CAMPOS, 24 DE JUNHO DE
1934
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