Vae alto pela folhagem
Um rumor de pertencer,
Como se houvesse na aragem
Uma razão de querer.
Mas, sim, é como se o som
Do vento no arvoredo
Tivesse um intuito, ou bom
Ou mau, mas feito em segredo,
E que, pensando no abysmo
Onde os ventos são ninguém,
Subisse até onde scismo,
E, alto, alado, num vaivém
De tormenta commovesse
As árvores agitadas
Até que delas me viesse
Este mau conto de fadas.
FERNANDO PESSOA, 15 DE DEZEMBRO DE
1932
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