Símbolos? Estou farto de símbolos...
Uns dizem-me que tudo é símbolo.
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos...
Que o sol seja um símbolo, está
bem...
Que a lua seja um símbolo, está
bem...
Mas quem repara no sol senão quando
a chuva cessa
E ele rompe das nuvens e aponta para
trás das costas
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para
achar
Bela a luz que ela espalha, e não
bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o
que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores,
aos montes
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja
símbolos...
Mas que símbolo é, não o sol, não a
lua, não a terra,
Mas este poente precoce e
azulando-se menos,
O sol entre farrapos findos de
nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística,
do outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doira a cabeça da costureira que
pára vagamente à esquina
Onde demorava outrora (mora perto)
com o namorado que a deixou?
Símbolos?... Não quero símbolos...
Queria só - pobre figura de magreza
e desamparo! -
Que o namorado voltasse para a
costureira.
ÁLVARO DE CAMPOS, 18 DE DEZEMBRO DE
1934
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