O rio que passa dura
Nas ondas que há em passar,
E cada onda figura
O instante de um lugar.
Pode ser que o rio siga,
Mas a onda que passou
É outra quando prossiga.
Não continua: durou.
Qual é o ser que subsiste
Sob estas formas de estar,
A onda que não existe,
O rio que é só passar?
Não sei, e o meu pensamento
Também não sabe se é,
Como a onda o seu momento
Como o rio.
FERNANDO PESSOA, 26 DE AGOSTO DE
1930
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