A pompa inútil dos teus gestos
quedos,
Como que à espera do ritual a dar,
Não traz ainda os segredos
Que ninguém tem para entregar.
Mas é como um prelúdio entre
rochedos
Ao que é o som do mar.
Deram-me rosas para que eu viesse.
Deram-me lírios para que sonhasse.
A rosa murcha e esquece,
E o lírio cai antes que amarelasse.
Mas isso tudo é a teia que nos tece
Uma aranha que nos amasse.
Ah, em vez de rosas, lírios, ou que
seja
Que me dêem o céu e o mar sem fim
E o que da aragem vaga seja
Tudo o que faz dormir assim.
E o que de tudo eu sonhe ou até veja
Que seja sempre só em mim.
FERNANDO PESSOA, 15 DE AGOSTO DE
1934
Sem comentários:
Enviar um comentário