Meu coração, mistério
batido pelas lonas dos ventos...
Bandeira a estralejar
desfraldadamente ao alto,
Árvore misturada,
curvada, sacudida pelo vendaval,
Agitada como uma espuma
verde pregada a si mesma,
(...)
Para sempre condenada à raiz
de não se poder exprimir!
Queria gritar alto com
uma voz que dissesse!
Queria levar ao menos a
outro coração a consciência do meu!
Queria ser lá fora...
Mas o que sou? O trapo
que foi bandeira,
As folhas varridas para
o canto que foram ramos,
As palavras socialmente
desentendidas, até por quem as aprecia,
Eu o que quis fora a
minha alma inteira,
E ficou só o chapéu do
mendigo debaixo do automóvel,
Estragado estragado,
E o riso dos rápidos
soou para trás na estrada dos felizes...
ÁLVARO DE CAMPOS, 10 DE
MAIO DE 1929
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