Se já não torna a eterna primavera
Que em sonhos conheci,
O que é que o exausto coração espera
Do que não tem em si?
Se não há mais florir de árvores
feitas
Só de alguém as sonhar,
Que coisas quer o coração perfeitas,
Quando e em que lugar?
Não: contentemo-nos com ter aragem
Que, porque existe, vem
Passar a mão sobre o alto da
folhagem,
E assim nos faz um bem.
FERNANDO PESSOA, 15 DE SETEMBRO DE
1933
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