O sonho que se opôs a que eu vivesse
A 'sperança que não quis que eu
acordasse,
O amor fictício que nunca era esse,
A glória eterna que velava a face...
Por onde eu, louco sem loucura,
passe
Esse conjunto absurdo a teia tece...
E, por mais que o Destino me
ajudasse,
Quero crer que o Deus dele me
esquecesse.
Por isso sou o deportado, e a ilha
Com que, de natural e vegetável
A imaginação se maravilha.
Nem frutos tem nem água que é
potável...
Do barco naufragado vê-se a
quilha...
(...)
FERNANDO PESSOA, 24 DE ABRIL DE 1928
Sem comentários:
Enviar um comentário