Tragam-me tédio para divertir-me!
Tragam-me flores para as recusar!
Quero de quanto quis ou pude rir-me,
De quanto amei falar...
Falar, dizendo o que se nunca diz,
O que a alma a si oculta e a outros
nega.
Quero a mim mesmo parecer feliz
Como a criança que sem água rega.
Tragam-me rosas, - rosas, sim, ou
lírios -
Para que eu sinta em mim o
Imperador,
Até que enfim os meus próprios
delírios,
Suaves, se voltem contra o seu
senhor.
FERNANDO PESSOA, 8 DE AGOSTO DE 1934
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