Tudo dorme. Pela erva
Um vento ouvido passa.
E ela cicia, serva
Do silêncio que a abraça.
Paira um luar de sobre
Juncos em lagos vagos,
Mas nenhuma grinalda cobre
Este lugar sem lagos.
Esta paisagem vive
Só de antes eu a sonhar.
Não sei se ali estive
Lembro-me de a lembrar.
E esta impalpável hora
Se infiltra no meu ser,
Como uma voz que chora
Nem lembrar nem esquecer.
FERNANDO PESSOA, 21 DE MARÇO DE 1927
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