Porque o olhar de quem não merece
O meu amor para outro olhou,
Uma dor fria me enfurece,
Decido odiar quem me insultou.
Vil dor, vil causa e vil remédio!
Quanto melhor não fora achar-se
No antigo sem-amor, com tédio,
Mas sem dor de que envergonhar-se!
Ainda assim nem no fundo
Da taça desta dor que é vil
Há um vago (…)
Um vago % subtil...
Por isso talvez valha mais
Dar por não vis a causa e a dor
E ir buscar o amor (…)
Como se o sonho fosse o amor.
FERNANDO PESSOA, 15 DE FEVEREIRO DE 1920
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