MAR. MANHÃ.
Suavemente grande avança
Cheia de sol a onda do mar;
Pausadamente se balança,
E desce como a descansar.
Tão lenta e longa que parece
Duma criança de Titã
O glauco seio que adormece,
Arfando à brisa da manhã.
Parece ser um ente apenas
Este correr da onda do mar,
Como uma cobra que em serenas
Dobras se alongue a colear.
Unido e vasto e interminável
No são sossego azul do sol,
Arfa com um mover-se estável
O oceano ébrio de arrebol.
E a minha sensação é nula,
Quer de prazer, quer de pensar...
Ébria de alheia a mim ondula
Na onda lúcida do mar.
FERNANDO PESSOA, 16 DE NOVEMBRO DE 1909
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário