Ainda há do teu sangue em minhas
veias
E que pouco eu sou teu, longínquo
avô!
Da tua alma leal que longe estou
E da inércia e da dúvida em que
teias!
Tu tinhas, suponho eu, poucas ideias
Mas seu fim natural tua alma achou,
E eu, que me sondo, nunca sei quem
sou
E tenho as horas de incerteza
cheias.
Qual mais nos vale - a inconsciência
forte
Ou esta débil consciência fria
Que nos perguntou qual o nosso norte
-
Penélope interior que à vista fia
O aparente lençol da sua sorte
E à noite anula o que fiou de dia.
FERNANDO PESSOA, 13 DE NOVEMBRO DE
1914
Sem comentários:
Enviar um comentário