Sou como uma criança nada
Num (...) solar antigo,
Longe de vila, aldeia ou de estrada,
Monótono e sombrio abrigo,
De onde se a vida nunca vê
Sem nunca se saber porquê.
Tarde p'ra dor ou alegria,
Tarde desde o primeiro dia!
Tudo - acção, fé, prazer, amor
Dão-me só dúvida e terror.
Cativo do meu próprio ser,
Submisso do meu vão destino,
Sem ter a quem possa acolher
Não posso ir, não sei partir.
Em vão, de dentro de mim mesmo
Vozes me chamam para fora
Em vão tropel, (...)a esmo,
O mundo dos outros me implora -
Em vão. Falam a quem não sabe
Que gesto ou que razão lhe cabe.
De longe passam romarias,
Ao longe o labor soa e canta
Pelas estradas.
FERNANDO PESSOA, 22 DE FEVEREIRO DE
1927
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