O dedo do vento roça...
Elas dizem-me que sim...
Mas eu já não sei de mim
Nem do que queira ou que
possa.
E o alto frio das ervas
Fica no ar a tremer...
Parece que me enganaram
E que os ventos me
levaram
O com que me convencer.
Mas no relvado das ervas
Nem bole agora uma só.
Porque pus eu uma
esperança
Naquela inútil mudança
De que nada ali ficou?
Não: o sossego das ervas
Não é o de há pouco já.
Que inda a lembrança do
vento
Me as move no pensamento
E eu tenho porque não
há.
FERNANDO PESSOA, 13 DE
OUTUBRO DE 1930
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