Perdi a esperança como uma carteira
vazia...
Troçou de mim o Destino; fiz figas
para o outro lado,
E a revolta bem podia ser bordada a
missanga por minha avó
E ser relíquia da sala da casa velha
que não tenho.
(Jantávamos cedo, num outrora que já
me parece de outra incarnação,
E depois tomava-se chá nas noites
sossegadas que não voltam.
Minha infância, meu passado sem
adolescência, passaram,
Fiquei triste, como se a verdade me
tivesse sido dita,
Mas nunca mais pude sentir verdade
nenhuma excepto sentir o passado)
ÁLVARO DE CAMPOS, 17 DE DEZEMBRO DE
1927
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