Sob a nudez do céu cheio de lua,
Onde ser 'strela é empalidecer,
Vou demoradamente pela rua,
Pensando firmemente em nada ser.
Mas é viver que penso, não morrer.
Penso naquele estado, ou intermédio
Ou impossível, que nos surge como
A melhor coisa que é contrária ao
tédio,
Onde nem há saudade nem assomo
De desejo, um viver de elfo ou de
gnomo.
Mas, supondo que tenha algum sentido
O estar pensando assim, o certo é
que eu
Vou demoradamente decidido
A não ser nada, sob este amplo céu
De que o luar é, a um tempo, luz e
véu.
Bem sei que num passado já tão longe
Que parece de um outro, ou lido, ou
nada,
Tive melhor ideia que ser monge
E muito menos desta forma errada.
O luar enche a rua sossegada.
FERNANDO PESSOA, 1 DE NOVEMBRO DE
1933
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