Não sei que dor quebranta
O meu coração doente,
Que um pouco dói, e encanta
Um pouco, e mal se sente.
Não sei se é como a leve
Dor de mortal ferida,
Que subtil gume obteve
Em rápida investida;
Ou se é apenas tanto
Quanto o pouco que dói,
Se por conter encanto
É que menos dor foi...
Não sei, nem me conheço.
Sentindo-a, esqueço a vida,
E porque a vida esqueço
Menos a alma é dorida.
Não sei... Frémito , leve
De asa da maldição
Que ou pára, ou pousa breve
Sobre o meu coração.
FERNANDO PESSOA, 23 DE
JANEIRO DE 1921
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