quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
FAZ HOJE 93 ANOS
Por cima das revoltas, das cobiças,
Da incerteza da vida e do escarcéu
De inúteis e constantes injustiças,
O mesmo sol doura no mesmo céu.
Imperturbavelmente, enquanto as gentes
Da terra turvam sua própria vida,
Resultam os arbustos das sementes
Numa continuidade indefinida.
Ah, a lição que, a podermos aprendê-la
Mais do que com a mente, com o instinto!,
Atravessara, qual longínqua vela
O mar do do nosso anseio ermo e indistinto.
Sejamos calmos como a Natureza,
Um pouco indiferentes e fugazes,
Órfãos já da ilusão e da surpresa,
Viúvos do sonho das humanas pazes,
E, abandonando o rio das paixões,
Salvos enfim, na margem concedamos
Aos Deuses sacrifício, e às ilusões
O esquecimento que ao passado damos.
Lembrar! 'Sperar! Ter fé e confiança!
É sempre a mesma inútil ilusão.
As folhas aos meus pés em branda dança
Falam do vento, e as vagas sombras vão
Alongando-se pela terra fora,
Cúmplices exteriores deste vago
Anseio porque a vida nunca fora
Que morre em mim como o tremer de um lago.
FERNANDO PESSOA, 21 DE DEZEMBRO DE1918
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